O universo veio à tona pelo poder e criatividade de Deus (Gn 1:1). Nessa realidade criada, o SENHOR deu à humanidade uma bênção chamada LINGUAGEM. Nas postagens de nosso blog, quero meditar um pouco sobre essa dádiva e dar a vosso leitor sobre como desenvolver um uso mais aprimorado desse veículo para a glória de Deus.
I. Linguagem, Língua e Fala
Na comunicação, você já deve ter percebido, o homem usa símbolos, gestos, desenhor etc.[1] A esses usos comunicativos damos o nome de linguagem. Assim, linguagem, como trabalharemos aqui, “é a representação do pensamento por meio de sinais que permitem a comunicação e a interação entre as pessoas”.[2] Dentre todos esses tipos de linguagem, destaquemos a língua, pois é o veículo comunicativo mais conhecido e eficiente que a humanidade dispõe. O pai da Linguística Ferdinand Saussure, definiu língua como:
a parte social da linguagem, exterior ao indivíduo, que, por si só, não pode nem criá-la nem modificá-la; ela não existe senão em virtude duma espécie de contrato estabelecido entre os moradores da comunidade. Por outro lado, o indivíduo tem necessidade de uma apredizagem para conhecer-lhe o funcionamento; somente pouco a pouco a criança a assimila.[3]
Segundo Saussure, língua é um subconjunto de linguagem [a parte... da linguagem] e está associada a uma dada sociedade [a parte social]. É um patrimônio de um grupo [ela... existe... em virtude duma espécie de contrato estabelecido entre os moradores da comunidade], não um bem privado [o indivíduo... por si só, não pode nem criá-la nem modificá-lo]. E, por fim, Saussure fala não só da capacidade humana de assimilá-la e da “necessidade... de... conhecer-lhe o funcionamento”.
Outra a definição para língua é: “um tipo de código formando por palavras e leis combinatórias por meio do qual as pessoas se comunicam e interagem entre si”.[4]
Necessitamos, agora, introduzir um termo complementar; a “fala”. Mesquita a chama de “realização concreta de uma língua, feita por um indivíduo de uma comunidade num determinado ato de comunicação”.[5]
A linguagem ou comunicação é um fenômeno que tem despertado a imaginação humana há séculos. Mesquita, falando sobre a capacidade humana de comunicar-se, declara:
O homem, como um ser social, precisa se comunicar e viver em comunidade, que é onde troca seus conhecimentos e suas experiências. Estes, por sua vez, irão levá-los a assimilar e compreender o mundo em que vive, dando-lhe meios para transformá-lo.[6]
Aqui, o autor associa a linguagem à existência da sociedade [O homem, como ser social] e revela algumas necessidades [O homem... precisa se comunicar e viver em comunidade] e certos comportamentos [O homem... troca seus conhecimentos e suas experiências]. A transformação do meio ao seu redor, visando o bem geral, depende dessa categoria [Estes, por sua vez, irão levá-lo a assimilar e compreender o mundo em que vive, dando-lhe meios para transformá-lo].
II. Níveis de Linguagem
Existem diversas formas de estudar a linguagem. Alguns linguístas usam a subdivisão variedade geográfica e variedade sócio-cultural.[7] Outros, norma culta e norma popular.[8] Usaremos aqui: língua falada e língua escrita.[9]
LÍNGUA FALADA
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LÍNGUA ESCRITA
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1. Numa situação de comunicação, a mensagem é transmitida de forma imediata.
2. Em geral, o emissor e o receptor devem conhecer bem a situação e as circunstâncias que os rodeiam. Se, por qualquer motivo, isso não acontecer, pode haver problemas de comunicação ou, simplesmente, não haver mensagem.
3. A mensagem costuma ser transmitida de forma mais breve, notando-se nítida tentatvia de economizar as palavras.
4. Com a presença de um interlocutor, que pode, a qualquer momento, interromper a conversa, é comum o emprego de construções mais simples, frases incompletas, com ênfase nas orações coordenadas, “mais espontâneas e mais livres, menos reflexivas”.[10]
5. Há elementos prosódicos, como entonação, pausa, ritmo e gestos, que enfatizam o significado dos vocábulos e das frases.
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1. Numa situação de comunicação, a mensagem é transmitida de forma não imediata.
2. O receptor não precisa conhecer de forma direta a situação do emissor nem o contexto da mensagem.
3. São empregadas construções mais complexas, mais planejadas, pois subentendem-se que o emissor teve mais tempo para elaborar a mensagem, repensando-a, modificando-a. É, por isso, mais comum o uso de orações mais complexas, subordinadas, que exigem mais esforço de memória ou de raciocínio.
4. Como não é possível, na língua escrita, a utilização dos elementos prosódicos da língua falada, o emprego dos sinais de pontuação tenta reconstruir alguns desses elementos.
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III. A Linguagem e a Bíblia
Vimos anteriormente uma descrição da categoria linguagem (e suas subcategorias: língua e fala) do ponto de vista humano. Mas o que a Bíblia tem a falar sobre ela. Vejamos agora.
Como cristãos, cremos no relato bíblico da criação. Nesse mesmo relato, somos informados que Deus capacitou o homem com a habilidade de assimilar e compreender o mundo em que vive. Veja o que o autor de Gênesis nos ensina:
Havendo, pois, o SENHOR Deus formado da terra todos os animais do campo e todas as aves dos céus, trouxe-os ao homem paraver como este lhes chamaria; e o nome que o homem desse a todos os seres viventes esse seria o nome deles (Gênesis 2:19) .
Adão tinha a habilidade de assimilar informações sobre os animais e interagir com a realidade a sua volta, ou simplesmente, ele nomeou (usou substantivos) os seres que o cercavam. A capacidade linguístico-semântica de que desfrutamos é uma dádiva de Deus aos homens, logo como todos os demais dons de que dispomos, ela deve ser usada para o engrandecimento daquele que nos confiou tal (cf. A Parábola dos Talentos em Mt 25:14-30)
Outro importante motivo para fazermos bom e fiel uso da linguagem é: ser ela o canal que Deus emprega para mostrar-se à humanidade. Teologicamente, isso é chamado de revelação. O salmista diz:
1Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos. 2 Um dia discursa a outro dia, e uma noite revela conhecimento a outra noite. 3 Não há linguagem, nem há palavras, e deles não se ouve nenhum som; 4no entanto, por toda a terra se faz ouvir a sua voz, e as suas palavras, até aos confins do mundo (Salmo 19:1-4).
Deus se comunica com todos os homens, em todas as épocas e em todos os lugares por meio de um tipo de linguagem: a fala não-humana da natureza.[11] Contudo, a certas pessoas, em certas épocas e em certos lugares, Ele revelou-se de forma especial.[12] Esses dois tipos de comunicação estão sublinhados no texto acima. Há interação linguística entre Deus e os homens. Para provarmos a existência dessa interação ou comunicação, nos basearemos na assertiva do linguista Roman Jakobson: “é mister uma perspectiva sumária dos fatores constitutivos de todo processo linguístico, de todo ato de comunicação verbal”.[13]
Aplicando essa declaração, observaremos que existem seis elementos básicos presentes na comunicação (da ênfase dada a cada desses elementos, derivam-se todos os formatos de textos orais e/ou escritos).[14] Jakobson organizou assim suas observações sobre esses elementos:[15]
Deus [o remetente] fala da excelência da criação (vv. 1-6) e da palavra de Deus (vv. 7-14) [a mensagem] aos homens [os destinatários]. A intenção do salmo é mostra que Deus se revela à humanidade [o referente], por meio da natureza e da Bíblia [o canal] utilizando recursos audiovisuais, tais como os corpos celestes [a revelação geral], e visual-auditivo, a palavra escrita e/ou falada [o código] (a revelação especial).
Creio que essas são provas de que existe comunicação entre Deus e os homens. Para concluirmos nossa discussão, é necessário analisarmos dois fatores: o que Deus comunicou de si mesmo e qual a aplicação disso.
Como ministros de Deus no mundo, encontraremos pessoas que afirmam não ser possível conhecer nada sobre Deus (os céticos decididos)[16] ou que dizem não poder saber nada com certeza (os céticos comuns).[17] Alguns argumentos são: “Se Deus existe, ele não se comunica com os homens. Ele está totalmente afastado do mundo” e “Deus é infinito, como alguém finito entenderá o infinito? É impossível”. Uma das maiores mente cristãs do século XX, Francis Schaeffer, comenta:
De acordo com o posicionamento judaico-cristão e da Reforma em geral, acreditamos que existe alguém com quem conversar, e que ele nos transmitiu informações de dois tipos. Primeiramente, ele falou sobre si mesmo, não exaustiva, mas verdadeiramente; e, em segundo lugar, ele falou sobre a História e o Cosmos, não exaustiva, mas verdadeiramente. Sendo assim, e, como ele nos contou as duas coisas na base da revelação proposiocional e verbalizada [...].[18]
É possível conhecer a Deus, porque Ele se revelou aos homens de duas formas: Geral e Particularmente. Essa revelação não foi conseguida pelo esforço humano (2 Pe 1:20, 21a), mas o próprio Deus falou pela natureza (Sl 19:1-6; Rm 1:18-20), por meio de teofanias, visões, vozes, profecias (2 Pe 1:21; Hb 1:1) e, por último, pelo seu Filho (Hb 1:2; Jo 1:18). Deus não revelou tudo aos homens (Dt 29:29) o que precisamos saber para nossa salvação (Jo 17:17).
[1] MESQUITA, Roberto Melo. Gramática da Língua Portuguesa. 8ª Edição reformulada e atualizada. São Paulo: Editora Saraiva. 1999. 608. [vide p. 15]
[2] CEREJA, William Roberto & MAGALHÃES, Thereza Cochar. Português: Linguagens: literatura, produção de texto e gramática. Volume 1. 3ª Edição revista e ampliada. São Paulo: Atual, 1999. [vide p. 6]
[3] MESQUITA, 1999:15.
[4] SAUSSURE apud MESQUITA (Ibidem, p.16). Para mais detalhes, veja: SAUSSURE, Ferdinand. Curso de Linguística Geral. 20ª Edição. São Paulo: Cultrix. 1995.
[5] MESQUITA, 1999:15.
[6] Ibidem.
[7] Veja PRETI, Dino. Sociolinguística. Os Níveis da Fala. 7ª Edição. São Paulo: Edusp, 1994, p. 24-25.
[8] CEREJA & MAGALHÃES, 1999:9.
[9] Ibidem, p. 21.
[10] BORBA apud MESQUITA (Ibidem, p.21). Para mais detalhes, veja: BORBA, Francisco da Silva. Introdução aos Estudos Linguísticos. São Paulo: Companhia Editora Nacional. 1975, p.262.
[11] Na Teologia, isso é conhecido como revelação geral.
[12] Conhecida como revelação particular ou especial.
[13] JAKOBSON, Roman. Linguística e Comunicação. São Paulo: Cultrix, 1989, p. 122-123.
[14] Skeff faz uma abordagem bem interessante e didática sobre isso. Para mais detalhes veja: SKEFF, Alvisto. Curso Interativo de Redação. Fortaleza: Fundação Demócrito Rocha, 1998. 414 p.
[15] No esquema original, Jakobson usou o termo ‘contexto’ para o que aqui chamamos de ‘referente’ e contato, para ‘canal’.
[16]Segundo Geisler & Turek, 2006:43. Para maiores detalhes veja: GEISLER, Norman & TUREK, Frank. Não tenho fé suficiente para ser ateu. Tradução de E.ida, 2006. 421 p.
[17] Ibidem.
[18] SCHAEFFER, Francis. O Deus que se revela. Tradução de Gabrielle Gregersen. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2002. 143 p. [vide p. 100]
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