sábado, 25 de agosto de 2012

Tradutores da Bíblia: Filareto Drozdov (1782-1867)

Filareto Drozdov nasceu em 26 de dezembro de 1782 [ou 6 de janeiro de 1783], em Kolomna, nas proximidades de Moscou (Rússia) foi um dos mais destacados chefes espirituais da Igreja Ortodoxa Russa  no século XIX.

Seu verdadeiro nome era Vasili Mijáilovich Drozdov. No entanto, adotou o nome Filareto ao tornar-se monge em 1808. Concluiu seus estudos de teologia em 1803 para dedicar-se ao ensino de retórica, das línguas hebraica e grega. Também foi professor de filosofia e teologia na Academia Eclesiástica de São Petersburgo a partir de 1809.

Em 1812, tornou-se reitor desta instituição. Chegou a dirigir a política eclesiástica na Rússia governada pelo czar Alexandre I (foto ao lado), de quem foi conselheiro. Notável pregador e erudito bíblico, promoveu a tradução da Bíblia, até aquele momento existente somente na língua eslava eclesiástica, para o russo moderno.

Durante o reinado de Pedro, o Grande (1672-1725) percebeu-se a necesidade de traduzir a Bíblia para o russo. Para essa tarefa, nomearam o Pastor Glück* a fim de trabalhar em tal tradução, todavia Glück morreu dois anos depois sem saber o destino final de seu trabalho.A tradução teve de esperar mais de cem anos, até Filareto, para vim à luz. O evangelhos foram publicados em 1818 e o Novo Testamento inteiro em 1822. Em 1820, foi traduzido parte do Antigo Testamento e, em 1822, os Salmos. Em 1825, foi a vez do Pentateuco, Josué, Juízes e Rute serem editados.

Como arcebispo de Moscou (1821-1867), foi u influente membro do Santo Sínodo. Seu Catecismo (1823)  transformou em texto escolar. Por outra lado, preparou o esboço do manifesto de 1861, firmado pelo czar Alexandre II, através do qual se emancipavam os escravos. Foi autor de interessantes escritos como o Esclarecimento da Diferença entre as Igrejas Oriental e Ocidental, com respeito à Dogmática (1815), Compêndio da História Bíblico-Eclesiástica (1816) e Catecismo Ortodoxo. Grande popularidade obtiveram seus Slova e Reci (Palavras e Sermões, 1848).

Morreu em 19 de novembro [ou 1o. de dezembro] de 1867 em Moscou.


* Johann Ernst Glück (Wettin, 18 de Maio de 1654 - Moscou, 5 de Maio de 1705) foi um clérigo luterano da Letônia, de origem alemã, que efectuou a primeira tradução da Bíblia para o idioma letão (Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Johann_Ernst_Gl%C3%BCck, acesso em 09 de setembro de 2012, às 23:02).

Traduzido por Marcos Paulo da Silva Soares
Acesso em 25 de agosto de 2012, às 00:37
Usado com permissão

Tradutores da Bíblia: Bonifaci Ferrer (1350-1417)

Bonifaci Ferrer, fez seus primeiros estudos em Perusa (Itália) e logo foi estudar na Universidade de Lérida, na província de Catalunha, Espanha. Casou-se com Jaumeta Despont com quem teve onze filhos. Exerceu diversas funções oficiais como representante do município de Valência, além de ser embaixador do  Reino em certas missões delicadas.

Esta foi, precisamente, uma das causas que levaram-no ao cárcere, devido a uma denúncia,  mais tarde, que não pôde ser comprovada. Por causa disso, associado à morte de sua esposa e de nove dos seus onze filhos e à influência de seu irmão Vicente, ingressou no convento cartuxo de Porta Coeli, próximo à Valência. Conviveu com os acontecimentos do "Cisma de Ocidente",* pois manteve estreitas relações com Benedico XIII, o famoso "Papa Luna".

Ferrer foi o primeiro tradutor da Bíblia para o valeciano (Ao lado, uma página do Livro de Apocalipse nesta língua, não a da edição de Ferrer). Com a ajuda de alguns frades baseou seu trabalho inicialmente na Vulgata. Esta Bíblia foi impressa por Mossén Alfonso Fernández de Córdoba, espanhol, e Mossén Lambert Palmart, alemão, no estilo tipográfico velho romano, de fevereiro de 1477 a março de 1478, patrocinado pelo comerciante Felipe Vizlant, alemão, irmão de Jacobo Vizlant, o introdutor da imprensa em Valência, morto em 1485. O Psalterium [Os Salmos] já haviam sido impressos nesse mesmo idioma "en nombre de nuestro Senyor y de la humilde Verge María, mare sua."

Esta Biblia "foi traduzida da língua latina para nossa língua valenciana, no Convento (Cartuxo) de Porta Coeli, pelo Rev. Micer Bonifaci Ferrer (irmão de Vicente), com a ajuda de outros singulares homens da ciência".

Este é o testemunho do Pe. J. B. Civera em sua história do Monastério de Porta Coeli (em 1630): 

"Chegaram em minhas mãos quatro folhas de papel de marca maior, as quais foram enviadas por um clérigo de Valência. Ele dizia tê-las achado entre outros papéis velhos em um arquivo e eram as últimas de uma Bíblia escrita na língua valenciana, traduzida do latim por certo Padre chamado D. Bonifaci. Esta obra foi impressa em Valência no ano de 1478. Espantou-me muito quando a vi, porque ninguém a mencionou já que muitos devem ter tido conhecimento da mesma. Disseram-e semelhante coisa, uma vez que a notícia sobre a mesma, como já disse, parece novidade . Digo isso, porque na última página, vê-se a simplicidade da língua valenciana daquela época."

O manuscrito de Ferrer foi impresso em fevereiro de 1477, pouco tempo depois da invenção desse mecanismos por Gutemberg, em 1439. Um ano depois de impressa veio à luz.

Por ironia, o ano de 1478 não era o melhor momento para isso. Nos territórios de Fernando de Aragão e Isabel de Castela, os Reis Católicos, têm sua petição feita ao papa Sisto IV atendida pelo mesmo: a criação de um dos meios mais poderosos para unificar política e religiosamente um Estado, a Inquisição. Imagine nesse período, publica-se uma Bíblia em uma língua vernácula!

Ainda que os decretos do Concílio de Tolosa (1229) proibissem a leitura da Bíblia nas línguas vernáculas, o fato de traduzir-se e imprimir-se uma Bíblia em valenciano demonstra que, na região valenciana, não estavam em vigor tais decretos nem as leis impostas por Jaime I de Aragão. A 3a. proibição de Tarragona (1233) não tinha alcance ali. Conforme certos autores, a Inquisição vedou ao povo esta Bíblia tendo como pretexto o seguinte:

"Porque alguns dos judeus que ficaram na Espanha, depois de serem expulsos desses Reinos cento e vinte mil, usaram essa versão da Bíblia em suas ações e cerimônias, como o modo de oferecer sacrifícios. Por isso, proibiu-se a leitura dessa versão. Os que não pertencessem ao povo judeus podiam lê-las. Os demais não poderiam fazê-lo."


De acordo com Torres Belda, o bibliotecário da Universidade de Valência, em um primeiro edito dos inquisidores, datado de 7 de novembro de 1497, em Ávila, e dirigido aos valencianos, dizia que:

"Há muitas pessoas nesses reinos que têm livros escritos em hebraico, que tocam e seguem a lei dos judeus. São conhecedores da medicina e outras ciências e artes quase bruxarias na língua do povo. Os que seguem tais coisas sofreram condenação."


Ordena-se, então, o recolhimento de livros em hebraico e de Bíblias. Como penalidade para os que desobedecessem, os que não entregassem tais obras que estivessem em seu poder para serem queimadas publicamente, estavam a excomunhão e a perda de todos os bens.

Outro edito publicado pelo inquisidor em Valência, Juan de Monastério, cônego de Burgos, em 10 de março de 1498:

"Alguns tentaram e têm procurado traduzir as Sagradas Escrituras. Mas, em nossa língua moderna, ao traduzir, alteram-se muitos vocábulos e termos que não têm equivalência exata em romance.** Deve-se recolher todos os livros hebraicos, todas as Bíblias e saltérios vertidos em língua moderna, como igualmente os escritos moriscos (muçulmanos espanhóis)."


Esta ordem provocou tantos protestos em Valência, que, em 20 de março, o próprio inquisidor mandou suspender sua aplicação pelos vigários gerais. As queixas recebidas foram levadas aos inquisidores gerais, que fizeram suspender também a execução. Porém, o exame de livros suspeitos [que provavelmente seriam queimados] e o julgamento de seus donos deviam ser submetidas a um Comitê de Doutores.

A Bíblia de Ferrer, pois, confronta-se, logo ao nascer, com uma máquina criada para aniquilar toda dissidência no campo religioso. Ela veio a ser uma das primeiras vítimas que sofrerá seus terríveis rigores - A edição inteira é aprisionada. Torna-se um precedente do que mais tarde ocorrerá em maior escala. Apesar de tudo, um exemplar foi salvo e, em Paris, encontra-se conservado os Salmos e os Evangelhos em um documento chamado "Codex de Palau".


*Nota do Tradutor: Grande Cisma do Ocidente, Cisma Papal ou simplesmente Grande Cisma foi uma crise religiosa que ocorreu na Igreja Católica de 1378 a 1417, levando a transferência da sede papal de Roma para Avinhão, na França (fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Cisma_do_Ocidente).

** N. do Trad.: Nome dado as línguas que se derivaram do latim.

Traduzido e adaptada em português por Marcos Paulo da Silva Soares
Acesso em 10 de agosto de 2012, às 13h00
Usado como permissão

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Tradutores da Bíblia: Jan Bogumił (Gottlieb) Fabricius (1681-1741)

Jan Bogumił (ou GottliebFabricius, de ascendência alemã, nasceu na Polônia em 1681. Pertencia à étnia servo-lusaciana (veja a região da Lusácia ao lado). Este povo é de origem eslava-ocidental que vivem ao leste da Alemanha. Os baixo-lusacianos radicados no norte, próximo da cidade de Cottbus, enquanto os alto-lusacianos são encontrados mais ao sul, na cidade de Bautzen. Outro nome para estes povos são sórbios o sorábios. Hoje formam uma população de aproximadamente uma cem mil pessoas.

Embora sejam numericamente uma minoria, os sórbios têm apresentado uma grande vitalidade cultural e lutam para não serem absorvidos pela cultura e língua alemãs. O primeiro documento escrito em língua lusaciana, ainda que não tenha sido possível determinar se em um estágio inferior ou superior, foram as Glosas de Magdeburgo, comentários sobre um manuscrito latino do século XII.

Porém a difusão da escrita nos idiomas sorábios está relacionada diretamente com a Reforma, pois o protestantismo tornar-se a fé majoritária desses povos, ainda que, com passar do tempo, os Habsburgos restauram o catolicismo nos territórios alto-lusacianos antes protestantes. Na Baixa Lusácia, o protestantismo conservou sua posição de prestígio.

Além de sua tradução, Fabricius trabalhou incansavelmente a fim de que o baixo-lusaciano se popularizasse. Para isso, investiu todos os seus bens nessa obra, como resultado morreu em extrema pobreza. 



                      Ao lado João 1:1-8


Traduzido por Marcos Paulo da Silva Soares 
Acesso em 23 de agosto de 2012, às 22:54
Usado com permissão


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sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Tradutores da Bíblia: James Evans (1801-1846)

O criador do silabário* cree foi o reverendo James Evans, ministro do evangelho no princípio do século XIX. Sua missão era converter o povo aborígene de Ontário, província canadense, ao cristianismo. Suas primeiras atividades incluem o convívio com o povo ojibway, durante vários anos, no sul de Ontário.

Durante sua permanência nessa tribo, aprendeu habilmente a língua ojibway e começou a grafar** a mesma, tomando por base o alfabeto romano. Por ser ministro do evangelho, Evans desejava traduzir a Bíblia para o Ojibway. No entanto, teve dificuldades com seu método, porque esta língua não se adaptava ao alfabeto romano.

Qualquer pessoa que familiaridade a língua ojibway ou com língua cree, sabe que toda palavra neolatina europeia, por exemplo, ao traduzida para estes idiomas, pode resultar em algo excessivamente grande. Para exemplificar, a palavra "escola" traduzida em cree fica: "kis ki nwa ma too ka mik" (Abaixo veja um exemplo de placa de trânsito no silabário cree). Outro exemplo é o próprio nome do povo cree em sua língua: Nēhiyawēwin / ᓀᐦᐃᔭᐍᐏᐣ.

No início da década de 40, Evans viajou para Norway House, em Manitoba, no Canadá (Veja no mapa ao lado). Ali vivia uma comunidade cree. Nesta localidade, a obra de Evans floresceu. Eles inventou um sistema de escrita usando caracteres denominados caracteres silábicos cree. Esse sistema é muito simples e puramente geométrico, consistindo em doze símbolos que são vogais ou consonantes básicas.

O próximo passo de sua obra foi ensinar às pessoas de Norway House e aos povos vizinhos  esse. Com o tempo conseguiu uma imprensa adaptada ao sistema dos caracteres cree e começou a impressão de material religioso nessa língua.

Tristemente, ali iniciaram-se os problemas para Evans. Havia acusações contra ele por causa de sua entrada nos domínios dos nativos e por causa de sua conduta. A situação chegou ao ponto de que ser forçado a deixar Norway House, retornando a Inglaterra, nunca mais voltando a aquele lugar.

Placas de Trânsito no silabário cree


João 3:16 no silabário cree

* Nota do Tradutor: Um silabário é um conjunto de símbolos de escrita que representam (ou aproximam) sílabas que compõem palavras. Um símbolo num silabário representa tipicamente um som consoante opcional seguido por um som  vogal (Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Silab%C3%A1rio, acesso em 10 de agosto de 2012, às 13h20).
** N. do Trad.: Dar a forma escrita a um idioma ágrafo - que não possui tal forma.

Fontes:
Traduzido por Marcos Paulo da Silva Soares
acesso em 10 de agosto de 2012, às 17:21
Usado com permissão

Sons e Línguas - O Fazer Missões através da Tradução da Bíblia em Poesia

Abaixo segue o texto do Folheto Sons e Línguas, da Missão ALEM, que descreve de modo singelo o trabalho do missionário-tradutor de Bíblia...