Durante o século XII, em Lion, na França, surgiram e difundiram os
valdenses, movimento que pretendia recuperar as raízes de una vida cristã baseada
no Novo Testamento. Uma de suas marcas, além da pobreza material, era a pregação
dos laicos[1] e sua
insistência em pôr a Sagrada Escritura na língua vernácula[2] do povo.
Com esse objetivo, Pedro Valdo, fundador deste movimento,
encarregou ao sacerdote-gramático Esteban
de Anse que traduzisse uma seleção de textos para a língua comum.[3] O próprio Valdo se encarregaria de financiar o
projeto compensando a Esteban, entre outras coisas, com um forno de sua propriedade
– a qual anos depois, Anse doaria à catedral de San Esteban. O trabalho de
tradução foi realizado até 1170, data na qual Valdo começou a pregar nas ruas de
sua cidade. Poucos anos depois, quando os valdenses compareceram diante do III
Concílio de Latrão a fim de defenderem-se levavam consigo a tradução de boa
parte da Bíblia: “Apresentação ao Papa um livro escrito em gaulês,[4]
que continha o texto e a glossa do Saltério e de muitos escritos do Antigo e do
Novo Testamento”.[5] É interessante a expressão 'em gaulês'
nesse texto, recolhida por uma testemunha presencial dos atos e que faz referência
à língua vernácula falada pelos valdenses. Este falar, com certeza, era uma
variante do provençal.[6]
Esteban de Borbón, aquele que escreveu em 1250 um tratado intitulado De septem donis Spiritus sancti,
menciona os Evangelhos como parte dos livros bíblicos traduzidos por Esteban de
Anse para Valdo. Também menciona 'outros livros da Bíblia e fragmentos dos
Pais da Igreja, reunidos com o título Sentença.
Traduzido por Marcos Paulo da Silva Soares
Usado
com permissão.
[1] Também chamados de
leigos, pessoas não consagradas a um ofício eclesiástico (N. do Trad.).
[2] O mesmo que língua
materna (N. do Trad.).
[3] A língua falada nessa
região era o rético, uma das línguas derivadas do latim vulgar ou comum. Alguns
acreditam que se trata-se do provençal – veja nota de rodapé 6 (N. do Trad.).
[4] A língua dos antigos
gaules, derivada dos celtas e falada na região que compreende a França e parte
da Suiça (N. do Trad.).
[5] Walter Map, De
nugis curialum.
[6][6] Uma das dez línguas derivadas do latim
vulgar. Falada na região sul da França e de importante influência nas origens
da literatura portuguesa (N. do Trad.).
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