segunda-feira, 11 de junho de 2012

Tradutores da Bíblia: Desidério Erasmo (1469-1536)


Desidério Erasmo (nascido em 27 de outubro de 1469, em Roterdã, na Holanda - foto ao lado) era filho ilegítimo de um clérigo, algo mais comum do que se imagina naquela época. Aos 15 anos ficou órfão. Isso fez com Erasmo, já adulto, não olhasse para sua infância como dias felizes, mas sim como dias que preferisse esquecer.

Posto em contato com os Irmãos da Vida Comum[i] recebe deles o gosto pelas Letras Latinas e Gregas, coisa que influenciará notavelmente em sua vida intelectual.

Com 18 anos, ingressa no noviciado do Convento Agostiniano de Steyn, ainda que existam dúvidas se esta decisão ocorreu por causa de motivos religiosos ou intelectuais. Seja qual tenha sido a razão, logo depois de ser ordenado sacerdote, abandonou o convento para sempre. Sua independência de espírito não o enquadrava na vida calculada e premeditada de um monge.

No entanto, a dívida de Erasmo com os Irmãos da Vida Comum e com os clérigos de Steyn se refletirá na prática de uma religião interior, sensível e espiritual como esboçada na obra Imitação de Cristo, de Tomás de Kémpis.

Desde cedo, viaja, escreve e mantém uma intensa correspondência com amigos e protetores. Embora escreva, não publica livros, pois estes eram anos de investigação, estudo e preparação para o futuro. Em 1499, encontrava-se em Londres onde iniciou amizade com Tomás Moro, o futuro chanceler e mártir da Inglaterra. Também conheceu ali a John Colet, de que assistiu às dissertações sobre as Cartas de São Paulo.

O primeiro livro que Erasmo publicou foi Adágios, resumo e florilégio sobre a sabedoria antiga – uma obra que se encaixa perfeitamente no ambiente renascentista. Em 1503, publica Manual do Cavaleiro Cristão, escrito no formato de uma carta direcionada a um amigo laico com o fim de lhe instruir no modo de viver cristão nesse mundo (um combate espiritual que ameaça à alma). Nesta obra, aconselha a seu leitor que se volte para a Bíblia, como meio supremo de renovar sua vida espiritual. Também traduz obras clássicas. A tradução do Novo Testamento que faz do grego para o latim contou com a supervisão de Colet, com quem tem desenvolvido seu conhecimento do grego.

De 1506 a 1509, percorreu as cidades italianas de Turim, Milão, Pádua, Bolonha, onde assistiu escandalizado à entrada triunfal do papa Júlio II nessa cidade, como se fosse um segundo Júlio César. Em Roma, ouviu um sermão na Sexta-Feira Santa contendo algumas palavras sobre a Paixão de Cristo, elogios a Julio II e uma grande exposição sobre a mitologia e história romanas. Por isso, não é de se estranhar que Erasmo dedique seus últimos anos a compor uma obra sobre a Pregação Cristã.

De volta à Inglaterra, escreveu o Elogio da Loucura – a obra que lhe conferiu fama universal. Na mesma, satiriza a papas, bispos, filósofos, sábios, príncipes, soldados e monges. Na Universidade de Cambridge, deu aulas de grego e teologia no Queen College, onde continuou com sua tradução do Novo Testamento, terminando-a em 1516 e publicada em Basileia, Suíça. Esta obra veio a influenciar grandes os reformadores como Lutero, Calvino e Zuínglio. Estes homens o utilizaram em seus estudos. Desse texto foram feitas por séculos traduções do Novo Testamento para um grande número de línguas.

Devido à ambiguidade em suas ações, Erasmo foi perseguido e incompreendido tanto pelos romanistas quanto pelos reformadores. Para os primeiros, foi um traidor – que passou para o lado oposto; para os últimos, alguém incapaz de romper com os laços que o prendiam a Roma. Disso, surgiram sua excomunhão por Roma e sua controvérsia com Lutero por causa do livre-arbítrio. Duas frases marcam esses desentendimentos:

"Suporto a esta Igreja até que ela melhore 
e a Igreja deve suporta-me até que me faça melhor" (Crítica à Igreja Católica). 
"Não darei meu nome a vossa Igreja caso não a vejo mudar" (Crítica a Lutero).

Na realidade, Erasmo era um homem que detestava rompimentos, disputas e que buscava reformar à Velha Igreja Católica. Desejava vê-la com uma espiritualidade sensível, interior e evangélica. Por estes motivos, sentia-se em terra de ninguém em uma época em que tomar partido abertamente por algo era considerada Alta Traição. Entretanto, suas críticas ácidas à Igreja de Roma não foram perdoadas apesar de não passar para o lado protestante. Erasmo não poupa argumentos ao contrariar as práticas e ensinos romanos:

·         "Queres agradar a São Pedro ou a São Paulo? Reproduz a fé de um e a caridade do outro. Assim, estás fazendo mais que se corresses dez vezes até a Roma".
·         "Não faço tratos com os santos. Dirijo-me diretamente a Deus por meio do Pai-Nosso, porque nenhum santo está mais acessível ou é mais misericordioso que nosso Pai".

Além de sua edição bilíngue do Novo Testamento (Acima uma passagem de Apocalipse), trabalhou em uma tradução para o latim de uma paráfrase do Novo Testamento, pois em suas próprias palavras:

“O Evangelho será lido pelos lavradores, pelos ferreiros, pelos pedreiros, pelos tecelões, até pelas meretrizes e seus amantes, até pelos turcos etc.".

Em uma época em que Roma via a tradução da Bíblia às línguas vernáculas como uma das fontes de heresia, as declarações de Erasmo entram em choque com o pensamento vigente:

“Que mal há em que os homens repitam o Evangelho em sua língua materna, a qual eles compreendem: os franceses em francês, os ingleses em inglês, os alemães em alemão, os indianos em hindustani? Penso que é muito pior, para não dizer ridículo, que se preocupem como os erros em latim feitos pelos mais simples e as mulheres ao lerem os Salmos e a Oração Dominical. Deviam se preocupar com sua falta de compreensão! Quantos homens de cinquenta anos ignoram o voto que pronunciaram no batismo e não fazem a menos ideia do que quer dizer cada trecho do Credo Apostólico, a Oração Dominical, os Sacramentos da Igreja”.

As Paráfrasis[i] estão entre os livros prediletos de Erasmo, pois, enquanto seu Novum Testamentum greco-latino ia para os intelectuais e os eruditos, as Paráfrasis são dirigidas a toda pessoa de cultura que saiba ler. Esse pensamento colocou-o em confronto direto com os teólogos de Sorbone que via nisso uma identificação com a atitude dos reformadores. Além disso, traduziu o Novo Testamento para sua língua materna, o holandês, sendo publicado em 1524, em Delft.

Morreu em 12 de julho de 1536, em Basileia, onde foi enterrado.

Acesso em 11 de junho de 2012, às 14 horas
Traduzido por Marcos Paulo da Silva Soares
Usado com permissão


[i] Gerhard Groote, ensinando uma abordagem mais prática ao cristianismo, fundou os Irmãos da Vida Comum como um esforço de chamar seguidores a uma devoção e santidade renovadas durante a corrupção moral que reinava entre os clérigos desde a Idade Média (Fonte: http://www.estudosdabiblia.net/2004119.htm, acesso em 11 de agosto de 2012, às 14h01).
[ii]Nome da obra em latim.






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