George Borrow nasceu
em East Dereham (Inglaterra) no dia 5 de julho de 1803. Como filho de um
militar, passou sua infância em diversas localidades da Escócia e da Inglaterra
devido às contínuas mudanças próprias da profissão do pai.
Em 1810, conheceu a
Ambrósio Smith, o cigano que marcaria em Borrow uma influência perene. À
semelhança de Jônatas e Davi, Borrow e Ambrósio juraram amizade perpétua.
Em 1818, encontramos
os dois juntos novamente e, desta vez, Borrow decide ir com seu amigo para um
acampamento de ciganos, onde aprenderia seus costumes e a língua romani.
Extraordinariamente
dotado para línguas, aprendeu galês, dinamarquês, hebraico, árabe e armênio. Alguns
de seus livros favoritos já mostravam sua inclinação aventureira e em nada
estática: Gil Blas (novela picaresca francesa), de Alain-René Lesage, O Peregrino de Bunyan e Robinson Crusoé.
Quando morre seu pai,
Borrow com 21 anos vai para Londres com a esperança de publicar os trabalhos de
tradução literária que fizera. Entretanto, a realidade foi hostil. Esta foi uma
época de sua vida em que passou grande crise espiritual. Voltou a encontrar-se
com Ambrósio Smith e foi viver com os ciganos, pondo ferraduras em cavalos. A
cavalo, percorre boa parte da Inglaterra em busca de aventuras.
A grande mudança na
vida de Borrow ocorreu em 1833, quando influenciado por um pastor que conhecia
seus dotes para as línguas, solicita
emprego na Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira. A primeira
tentativa de ingresso não satisfez completamente a seus futuros chefes devido a
uma frase ambígua para descrever sua vocação. Na segunda tentativa, Borrow
mostrou mais clareza, convencendo ao comitê encarregado de admitir seu
ingresso.
Seu primeiro destino
como representante da Sociedade Bíblica foi a Rússia. Alí colaborou na
transcrição e colação do manuscrito do Novo Testamento traduzido para a língua
manchu e sua impressa. Também traduziu algumas homílias da igreja anglicana e
duas coleções de poesia inglesa para o russo.
Em outubro de 1835,
volta para a Inglaterra e a Sociedade Bíblica o envía para Lisboa com o
objetivo de difundir a Bíblia em Portugal. Esta viagem marcará a vida de Borrow
de uma forma que ninguém suspeitaria.
Após um curto período
em Lisboa, Borrow decide ir para a Espanha e aí realiza a tarefa de difusão da
Bíblia. Porém, para isso, ele necessita da permissão de Londres, apesar da
permissão do governo espanhol para imprimir e distribuir a Bíblia sem notas em
castelhano.
Voltando de Londres
com a confirmação da Sociedade Bíblica, Borrow manda imprimir o Novo Testamento
do Padre Scio sem notas, traduz o evangelho de Lucas para o caló e abre uma
loja para vendas da Bíblia na rua do Príncipe, em Madrid.
Logo começam os
problemas: em 1838, os livros são roubados da loja e Dom Jorgito (como era
conhecido popularmente em Madrid) é preso.
Durante o período que
ficou na Espanha, Dom Jorgito entrou em contacto com os ciganos de diversos
povoados com o propósito de difundir o evangelho entre eles. Também viajou por
diversas regiões da Espanha. Fruto de todo esse empenho foi sua popular obra A
Bíblia na Espanha. Nessa obra, duas Espanhas são retratadas: a oficial, reacionária e clerical, e a popular,
castiça e espontânea.
Folha
de Apresentação do Evangelho de Lucas em caló[1]
Manuel Azaña (foto ao lado), que
mais tarde será o presidente da II República Espanhola, foi o tradutor e quem
assinou o prólogo de A Bíblia na Espanha. A descrição que Azaña faz de Borrow
no prólogo desta obre é o seguinte:
“Borrow era alto, franzino, de pernas longas, de
rosto oval e testa em forma de oliva. Tinha o nariz aquilino, porém não tanto
largo. A boca, bem desenhada; olhos escuros e muito expressivos. Com uma
precoce lucidez, a cabeça ficou completamente branca. As sobrancelhas largas e
proeminentes davam ao rosto uma destacada aparência escura”.
Em 1840, Borrow volta
para a Inglaterra onde se casa e publica vários livros, entre outros o já
mencionado A Bíblia na Espanha. Morreu em
Oulton, com a idade de 78 anos.
Lucas 9:57-60 em caló
Acesso em 21 de janeiro
de 2012, às 19:00 horas
Traduzido por Marcos
Paulo da Silva Soares
Usado com permissão.
[1] Linguagem própria dos ciganos da Península Ibérica que combina o léxico do romani, de origem indo-ariana muito evoluída devido aos costumes nômades do povo roma, e a gramática do castelhano e de outras línguas peninsulares (N. do Trad.).
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